Ministério Público mapeia rede de crimes entre Brasil, Paraguai e Uruguai. As investigações chegaram até Messer a partir de um de seus clientes, o ex-governador Sergio Cabral.
Por Marcelo Gomes, GloboNews
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Dario Messer — Foto: Fantástico
O Ministério Público Federal ofereceu à Justiça uma denúncia contra 19 pessoas, incluindo o “doleiro dos doleiros” Dario Messer, o também operador financeiro Najun Turner e o ex-presidente do Paraguai Horacio Cartes.
Com base nas apurações da Operação Patrón, a denúncia do MP foi apresentada na tarde da última quinta-feira (19) a 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro.
A Força-tarefa Lava Jato/RJ pediu a condenação de 11 brasileiros, sete paraguaios e um uruguaio, além de Messer, naturalizado paraguaio. Eles foram acusados de formar uma organização especializada em lavagem de dinheiro e outros crimes que operava pelo menos desde os anos 2000.
Segundo o Ministério Público, os crimes praticados pela organização comandada por Messer são câmbio ilegal, evasão de divisas e lavagem de dinheiro.
As investigações conseguiram chegar até Messer a partir das apurações de esquemas de um de seus clientes, o ex-governador do Rio de Janeiro Sergio Cabral.
Cabral foi o chefe de uma organização especializada em corrupção e que usou serviços da rede de Messer no Uruguai para ocultar valores milionárias oriundas de crimes no Palácio Guanabara e na Assembleia Legislativa (Alerj).
Deflagrada em 19 de novembro, a Operação Patrón aprofundou as investigações da Lava Jato no Rio de Janeiro e chegou às operações ilícitas do grupo de Messer em países do Mercosul.
Ao todo, a denúncia do MP apontou 17 atos criminosos cometidos pela organização desde 2011. O documento de 211 páginas mostra também que, em alguns casos, os crimes não foram interrompidos mesmo após a prisão de Messer, em julho.
Antes de ser preso em São Paulo, Dario Messer ficou 14 meses foragido da Justiça.
Para os 11 procuradores responsáveis pela investigação, a organização de Messer no Paraguai era tão poderosa que lhe permitiu continuar a ocultar cerca de US$ 1,5 milhão. O ‘doleiro dos doleiros’ também conseguiu financiar sua fuga com recursos ilícitos.
Dario Messer quando foi preso e em foto de arquivo — Foto: Reprodução/TV Globo
Dário Messer quando foi preso em São Paulo
As tarefas do grupo criminoso eram divididas entre os membros da quadrilha, como identificou o MPF.
Núcleo financeiro
O esquema comandado por Messer ganhou força internacional quando ele conseguiu fazer parcerias com doleiros de sua confiança no Brasil, Paraguai e Uruguai.
Entre esses parceiros no crime, estavam duas lideranças da organização; o uruguaio Najun Turner, que movimentou mais de US$ 14,6 milhões pela rede de Messer, entre 2011 e 2017, e o paraguaio Lucas Paredes, cujas transações movimentaram quase US$ 20 milhões nesse período.
O câmbio ilegal, a evasão de divisas e a lavagem de dinheiro envolviam depósitos ocultos de dólares no exterior e a entrega de reais no Brasil.
Um grupo maior de envolvidos no esquema atuava fazendo depósitos ocultos de dólares no Paraguai e depois repatriando esses valores em reais no Brasil. Para ocultar a origem criminosa do dinheiro eram utilizadas “contas de passagem” de empresas de diferentes ramos.
Núcleo político
A organização criminosa contava com integrantes do poder político ou muito próximos dele, segundo o MPF. O grupo reunia empresários, políticos e advogados que garantiam as atividades da organização e a impunidade de seus membros.
O ex-presidente do Paraguai Horácio Cartes também foi identificado pelo Ministério Público Federal como integrante da organização criminosa. Sua atuação, segundo o MP, aconteceu entre maio de 2018 e julho de 2019, período em que Messer ficou foragido e Cartes intercedeu por ele, apesar das ordens de prisão nos dois países.
A participação de Cartes na organização foi demonstrada na denúncia por seu financiamento de US$ 500 mil ao doleiro foragido, como o MPF também citou no pedido de prisão à Justiça brasileira.
Esse valor foi ocultado pelo empresário Antonio Joaquim da Mota até sua entrega a Myra Athaide, companheira de Messer.
Na denúncia, o MPF reconstituiu a atuação de cada integrante desse núcleo. Chamou a atenção das autoridades uma proposta de apresentação de Messer as autoridades paraguaias. No possível acordo, o doleiro ficaria cinco meses preso e depois seria libertado, mas sem ser extraditado.
Ex-presidente do Paraguai Horacio Cartes em um evento quando ainda era chefe de Estado — Foto: Norberto Duarte/ AFP
Núcleo operacional
De acordo com as investigações do Ministério Público, um outro núcleo era responsável pelas operações do grupo criminoso. Essas pessoas eram responsáveis pelo transporte e o recebimento de recursos ocultos de Messer. Além de Myra, integraram esse núcleo a mãe Alcione Maria Athayde, o padrasto Arleir Francisco Bellieny e o operador Filipe Arges Cursage.
Os quatro garantiram o fluxo de dinheiro para Messer e, no caso de Bellieny, seu nome foi usado com seu consentimento para o doleiro foragido se matricular em uma academia de ginástica em São Paulo.
O padrasto também atuou a serviço da organização, fazendo ao menos duas viagens para Assunção em meados de 2019.
Denunciados
- Dario Messer
- Najun Azario Flato Turner
- Lucas Lucio Mereles Paredes
- Roque Fabiano Silveira
- Filipe Arges Cursage
- Luiz Carlos de Andrade Fonseca
- Valter Pereira Lima
- Horácio Manuel Cartes Jara
- Myra de Oliveira Athayde
- Antonio Joaquim da Mota
- Cecy Medes Gonçalves da Mota
- José Fermin Valdez Gonzalez
- Felipe Cogorno Alvarez
- Edgar Ceferino Aranda Franco
- Jorge Alberto Ojeda Segovia
- Alcione Maria Mello de Oliveira Athayde
- Arleir Francisco Bellieny
- Roland Pascal Gerbauld
- Maria Letícia Bobeda Andrada